O poder de Kane
Charles Foster
Kane, personagem principal no filme “Cidadão Kane” (EUA, 1941) é retratado após
sua morte por diferentes pontos de vista. O filme, com diversas inovações em
imagem, som e fotografia para a época obteve reconhecimento e prêmios. Mas, sem
dúvida, seu maior impacto foi pelo seu roteiro, pela semelhança do personagem
principal com a sociedade capitalista em busca do poder.
Kane quando
criança era pobre, mas herdara uma fortuna e passara a viver com o banqueiro
Walter Parks Thatcher. À maioridade, passou a administrar muitos negócios de
seu tutor, mas dedicou-se principalmente ao ramo jornalístico, transformando os
jornais de sua posse em impérios da comunicação, com a ajuda de seu melhor
amigo, Jeddediah Lelan.
O personagem
passa a conquistar fama, poder, riqueza e casa-se com a sobrinha do presidente,
Emily Norton, chegando ao auge de sua carreira. Entra para a vida política,
concorrendo a governador, mas perde devido a boatos e reportagens de sua
suposta traição com a cantora Susan Alexander. Após, casa-se com Susan e se
isola no palácio que mandara construir, o Xanadu. Lá, vive seus últimos dias
solitário e amargurado, depois que sua segunda esposa o deixa.
Kane utilizou
seu poder para formar opinião em seus jornais, acreditando que as pessoas
pensariam aquilo que ele determinasse estar escrito. Usou o dinheiro para
comprar tudo quanto satisfizesse suas vontades e necessidades, mas todo seu
dinheiro não pode comprar as pessoas ao seu redor. Ele manteve suas ambições
não se importando com a felicidade daqueles que o amavam, o admiravam.
A vida de Kane
é um imenso quebra-cabeça a ser montado, em que faltava uma peça: Rosebud,
última palavra dita antes de sua morte. Através de entrevistas às pessoas mais
próximas, o repórter Jerry Thompson não descobre o que é Rosebud, mas descobre
que uma palavra é insuficiente para definir a vida dele. Sob diferentes pontos
de vista, Kane fora um homem cheio de visão, mas corrompido pela ambição, fama,
dinheiro e prepotência, acabando sozinho.
O filme
critica a sociedade capitalista, retratada na vida de Kane, na qual a busca
pelo poder se transforma em um fim em si mesma; em que aqueles que vivem para
ter poder só vivem para isso, esquecendo dos outros ao redor, desprezando as
necessidades e vontades de seu próximo.Quando Kane disputa as eleições para
governador e seu opositor descobre sua suposta traição com a cantora Susan,
ameaçando divulga-los na imprensa e expor a vida de sua família se ele não
desistisse, ele prefere prejudicar sua família a desistir de sua ambição, mesmo
diante das súplicas de sua esposa.
Aquele
que busca poder sobre pessoas, governos, organizações transmite sua maneira de
viver, seus pensamentos e ideais; transmite aquilo que acredita ser melhor
(muitas vezes, apenas para si próprio). As pessoas que conviveram com Kane
foram influenciadas pela maneira como ele buscava e utilizava o poder sobre a
sociedade e sobre elas. Após a morte dele, a única coisa que restou foram as
recordações sobre ele dessas pessoas. Isso nos traz uma questão importante: por
maior que seja o poder (tanto social quanto monetário) de um indivíduo em uma
sociedade, este mesmo não vai levá-lo para sempre. E a única lembrança que
ficará nas pessoas ao redor será a maneira pela qual esse indivíduo utilizou
seu poder.
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