Por Athos Ribeiro
Voltaire
Schilling publicou um artigo (“A capital das monstruosidades”) na ZH, em
outubro de 2009, criticando diversas instalações e obras de arte espalhadas por
Porto Alegre, devido às peculiaridades visuais das intervenções. De fato, as
obras eram bastante “diferentes” (como a “Casa Monstro” e a “Cuias” na rótula
perto do Parque Harmonia), o que gerou uma grande polêmica e causou a reação de
outros articulistas criticando a opinião de Voltaire, porém o que faltou na
discussão foi definir o que é arte? O que não é arte? O que é o feio? O que é o
belo?
("Cuias")
Arte é toda intervenção que não tenha utilidade
e que interaja com as pessoas. O artista cria sua obra conforme seu estado de
espírito, seu humor, sua disposição, seu tempo, aspectos que influenciam sua
inspiração (e dentro desse contexto a questão visual está em último plano).
Então a arte tem a ver com o sentimento posto na obra e esse abre diversas
interpretações para cada pessoa.
O texto de Voltaire
é, exatamente, a consequência do que um artista quer com sua obra: causar
efeitos sobre o expectador ou fazer com que ele interprete livremente o que
está vendo e sentindo com sua intervenção. “Trata-se da reprodução de um tumor
que, inchado, é expelido pelas aberturas da construção e vem se mostrar aos
olhos dos passantes, tal como se fora um abdômen de um canceroso recém-aberto
pelo bisturi de um cirurgião.” Sim! A “Casa Monstro” é horrível e não é por
acaso. Justamente é para causar a estranheza e revolta que Voltaire sentiu. Por
ser “monstruosa” não a torna “menos arte” do que Mona Lisa – citada por ele
quando faz outra crítica, agora sobre Duchamp, que pintou um bigode na obra de
Da Vinci.
Visualmente a “Casa Monstro” é feia,
entretanto a obra de arte não envolve só o final, aquilo que se vê dela.
Deve-se levar em consideração todo o trabalho e técnica utilizada pelo artista
ao fazer a casa monstro. Pode-se ver que toda a instalação é feita com madeira,
material que não é tão simples de se manusear, para que toda a estrutura tenha
se envergado e tomado forma, muito trabalho e de qualidade foi empregado nela.
("Casa Monstro")Não se pode determinar padrões para a arte, pois eles são muito relativos e variam para cada pessoa, para cada ponto de vista e cultura. A pichação feita no Brasil, por exemplo, que é considerada poluição visual, crime enquadrado no artigo 163, é marginalizado pela maioria da sociedade brasileira.
("VLOK" - pichação feita com um extintor de incêndio em São Paulo)
Porém, em outubro de 2009, “Né dans La Rue”, exposição
sobre arte de rua feita na Fundação Cartier, em Paris, levou o artista Cripta, para
expor suas técnicas dessa intervenção tão típica do nosso país, a pichação, no
museu francês.
("Cripta" - pixando em museu frânces)
Seria essa uma visão pós-contemporânea e
futurista de arte? Ou simplesmente a aceitação de que não existe um padrão para
ela? Por menos bonito que a pichação seja: seus traços retos, agressivos e
pouco coloridos (o que a torna visualmente menos atrativo), seus símbolos
envolvem técnica, sentimento e mensagem - assim como o grafite e as de mais
obras de arte como músicas e livros, por exemplo.
("Holie", "Kico" - Trensurb Porto Alegre)
O Trensurb de Porto Alegre,
recentemente, foi grafitado por artistas gaúchos. Os vagões foram cedidos pela
empresa, que pela segunda vez dá espaço para essa intervenção ser reconhecida
pela sociedade. No Brasil o grafite, antes marginalizado, devido a sua origem
também ilegal (assim como a pichação), vem sendo mais aceito pela população,
por ser mais colorida, envolver desenhos e ser visualmente menos agressiva.
Em
contrapartida, em diversos países da Europa, principalmente, o grafite é muito
marginalizado, não tendo espaço algum na rua e muito menos tendo apoio da
sociedade.
("Finók", "Lavoe", "L163" - Metrô de Barcelona)O que se pode ver é que na arte não tem certo ou errado, não tem um padrão a ser seguido. Para os brasileiros a pichação é crime, mas na França, fazem exposições valorizando e mostrando-a para o mundo. Para os europeus grafite é poluição, porém aqui a empresa de metrô cede os vagões para pintura. É uma questão de ponto de vista, de ter a mente aberta para aceitar todos os tipos de intervenção artística. Ter sua opinião sobre as questões visuais é algo particular, mas não se pode negar uma obra por ser “belo” ou “feio” na sua concepção.
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