por Louise Zilz
Cidade
Baixa é um tradicional bairro de Porto Alegre. Desde 1990 ele é reconhecido por
ser o ponto de encontro da população boêmia, ou melhor, era reconhecido. No ano
passado foi iniciada a Operação Sossego depois de inúmeras reclamações dos
moradores em questão do barulho, da sujeira deixada pelos freqüentadores e da
falta de segurança no local. De acordo com as regras da operação, de domingo a
quinta-feira os bares devem fechar a 1h. Sexta-feira, sábado e vésperas de
feriado, o limite é 2h - ambos os horários com tolerância de 30 minutos. Além
disso, as mesas nas calçadas estão proibidas depois das 24h em qualquer dia.
Um
grande problema que os donos dos estabelecimentos vêm enfrentando com o aumento
da fiscalização deve-se a falta de alvará. Algumas casas noturnas não possuem
permissão para atuarem como tal. A maioria dos bares funciona com alvarás que
lhes permitem permanecer abertos até as 24h (somente os bares que emitiram seus
alvarás antes de 2004 podem permanecer abertos depois desse horário, e muitos
desses já foram obrigados a reduzir o horário de funcionamento através de ações
judiciais). Tudo isso seria culpa dos empreendedores se a informação que
tivéssemos não fosse esta: É quase impossível conseguir um. Lucas é dono de uma
danceteria de Porto Alegre e diz: “Como
proprietário de uma danceteria há muitos anos, com alvará de casa noturna,
autorizada a funcionar após a meia-noite, posso dizer que para um
estabelecimento noturno conseguir esse alvará, se tudo estiver correto, não sai
antes de 36 meses. As exigências são tantas, como E.V.U. – Estudo de
Viabilidade Urbana, Laudo de Incêndio da SMOV, Habite-se específico, Laudo de
Operação da SMAM, PPCI do Corpo de Bombeiros e se tudo estiver nos ditames da
Lei, a SMIC emite o alvará. Em Porto Alegre, menos de 5%, eu disse 5%, das
casas noturnas tem todas as licenças exigidas, porque é simplesmente quase
impossível de se conseguir”. O desfecho de tudo isso, é a quase morte da
Cidade Baixa.
Nós,
porto alegrenses, estamos praticamente sem locais com preços viáveis para sair depois
da meia-noite. Os únicos que, curiosamente, continuam operando normalmente são
os do bairro Moinhos de Vento, só que os preços desses bares são altíssimos -
justamente para selecionar seus frequentadores. E as perdas não são somente
para a população boêmia. O bairro consta no Guia de Turismo de Porto Alegre.
Agora temos que avisar aos turistas que cheguem cedo, pois o “espetáculo” tem
hora para terminar, e apenas contar a eles as lembranças do que ocorria lá
antes.
Os
moradores têm todo o direito de reclamar se estão se sentindo incomodados com o
barulho ou com a sujeira, mas algumas coisas não estão sendo levadas em
consideração. A culpa está sendo colocada em todos os bares e baladas,
inclusive nos que têm apenas a intenção de reunir pessoas para se divertirem,
rirem, relaxarem e curtirem uma noite agradável com bebida e taxa de entrada
barata. Pois eu afirmo que a culpa não é desses estabelecimentos. Muitas
reclamações são de barulho, buzinas e brigas, só que isso acontece em locais
com pouca infraestrutura e com público que só quer saber de beber até passar
mal. Quem faz essa bagunça também são os que compram suas bebidas em supermercados
e ficam nas ruas se embriagando para depois pegarem seus carros e passearem em
alta velocidade e buzinando. Isso não pode ser culpa dos bares legais, aliás,
eles nem tem interesse que isso aconteça, pois não gera lucro e sempre acaba
dando confusão. Isso é culpa da polícia que acha mais fácil fechar todos os
bares do que fiscalizar quem realmente perturba.
No fim de tudo, quem paga
por isso somos nós, frequentadores do bairro, os proprietários que vêem
seu lucro minimizado, os trabalhadores, que perderam seus empregos e até os
moradores que deixaram de morar no bairro mais legal de Porto Alegre e passaram
a morar em apenas mais um bairro qualquer. Se a burocracia para conseguir os
alvarás não diminuir e o policiamento sobre o verdadeiro problema não aumentar,
o fracasso da Cidade Baixa é certo. E digo mais, os horários de fechamento dos
bares seriam viáveis se não trabalhássemos até tarde, se não estudássemos até
tarde e, principalmente, se o nosso costume fosse de sair cedo, o qual não
corresponde com a realidade. No Brasil as baladas abrem as portas a partir das
22h e as pessoas, normalmente, chegam às 24h.
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