No último domingo, ocorreu em Porto
Alegre, a já famosa “Marcha das Vadias”. Um movimento cultural que luta de uma
forma divertida e irônica para que as mulheres não sejam reprimidas em sua
sexualidade. Vestidas como “vadias” elas protestam, para que a mulher possa
vestir-se como bem entender sem ser molestada ou discriminada nas ruas. A
marcha surgiu no Canadá, quando após uma onda de estupros, um policial deu a
seguinte declaração: “se as mulheres não se
vestissem que nem vadias elas não seriam estupradas”.
Mas
até que ponto essa percepção é apenas dos homens? Quando se quer ofender uma
mulher em sua dignidade, chama-se de vadia e esse xingamento vem – absurdo! –
de uma semelhante. Essa parece ser a maior injúria a se dizer de alguém e, não
importa o contexto, até mesmo de brincadeira, é ofensivo. O desrespeito, muitas
vezes, parte de uma mulher para outra.
Somos criadas para usar roupas decentes,
cabelo impecável, para falarmos baixo, rirmos pouco e com discrição, andarmos
de modo não provocativo, sentarmos de pernas fechadas, falarmos com pudor, Deus
nos livre de palavrões, quem iria querer uma mulher assim? sermos difíceis,
deixar a conquista para o homem – o grande caçador – transarmos somente com o
namorado (e olhe lá, só depois de muito tempo, para não sermos descartadas) e,
principalmente, cuidar o nosso modo de agir como ser humano, para que
representemos muito bem o nosso papel de sexo frágil, que a nossa mãe e, antes
dela a nossa avó, representaram com louvor.
Como exemplo, trago o filme “Mulheres
Perfeitas” (EUA, 2004), em que mostra uma comunidade no interior dos Estados
Unidos tentando recriar o glamour da década de 1950. As mulheres são excelentes
donas-de-casa, impecáveis, submissas e dedicadas a seus maridos. No final do
filme vem a surpresa, quem arquitetou todo o projeto foi uma mulher, para lutar
contra o feminismo, para que os valores familiares fossem preservados. Que
valores, afinal, são esses, que são mais preciosos do que a liberdade de poder
ser o que se é, sem pudores, sem ressalvas. Mais preciosos do que a integridade
física e moral, do que o caráter, do que a vida de uma mulher?
Simone
de Beauvoir soube exemplificar bem melhor em palavras, do que em ações o
verdadeiro sentimento do ser mulher: “Que
nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria
substância”. Até quando viveremos sufocadas sob um regime machista sacramentado
e perpetuado por nós mesmas?
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