É comum ouvirmos que o português
falado aqui no Brasil apresenta uma extraordinária unidade linguística, que a
maioria da população fala apenas essa língua, sem possuir dialetos. Este é um
mito muito grande e muito difundido no nosso país, pois até mesmo a elite e
intelectuais de renome acabam se deixando enganar por ele. Um exemplo disso é o
último estudo sobre o povo brasileiro do antropólogo Darcy Ribeiro, publicado
no jornal Folha de São Paulo, que é citado no livro Preconceito Linguístico, de
Marcos Bagno: “É de assinalar que, apesar
de feitos pela fusão de matrizes tão diferenciadas, os brasileiros são, hoje,
um dos povos mais homogêneos linguística e culturalmente e também um dos mais
integrados socialmente da Terra. Falam uma mesma língua, sem dialetos.”.
Sim, é verdade que a maioria da
população brasileira fala português, mas é absurdo acreditarmos que há uma
unidade nessa língua, ainda citando que não existem dialetos, visto que existem
inúmeras culturas diferentes dentro do nosso país e dentro dessas culturas
existem outros diversos fatores, como status social, origem, valores, entre
outros. Como Carlos Alberto Faraco cita em seu livro Língua Portuguesa: Prática
de Redação para estudantes universitários: “...
somos um país multilíngue: aqui são faladas aproximadamente 120 línguas
indígenas, várias línguas de imigração e ainda há resquícios de línguas
africanas.”, o que nos mostra que não há possibilidade alguma de que alguém
ainda acredite que não existe variedade no nosso português.
Desde crianças, na escola,
aprendemos que existe o “certo e o errado” na língua portuguesa e começamos a
construir nas nossas cabeças a ideia de que quem fala “errado” são as pessoas
humildes, que não tiveram oportunidade de estudar e por isso não são pessoas
cultas. É um preconceito que criamos a partir do ensino dos nossos professores,
tanto os do ensino fundamental quanto os do ensino médio, e que também é muitas
vezes mostrado na mídia ou através da nossa própria família. A verdade é que está
na hora do nosso governo abrir os olhos e ver que as escolas devem começar a
ensinar para os alunos que não existe isso de “certo e errado”, ou que há
apenas uma norma padrão da língua que é correta, e sim mostrar que determinadas
maneiras de falar dependem do contexto sociocultural em que as pessoas estão inseridas.
É preciso entender que, assim como poderia soar estranho um executivo renomado
falar gírias como “e aí galera, tu que é meu parceiro, falou aí pessoal” em
público, também poderia causar estranheza um adolescente que convive em um meio
onde as gírias são comuns começar a falar “Tu podes me alcançar o celular, por
obséquio?”. É uma questão de contexto, realmente.
Quando se trata da língua, não
existe erro. O que existe são as diversas variedades linguísticas que devem
ser, acima de tudo, respeitadas e aprendidas na escola como algo positivo, e
não com aquele velho preconceito. É sempre bom abrir um pouco a cabeça para
perceber o mundo diferente e cheio de diversidade que existe ao nosso redor.
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