segunda-feira, 11 de junho de 2012

Brasil, país multilíngue sim.


É comum ouvirmos que o português falado aqui no Brasil apresenta uma extraordinária unidade linguística, que a maioria da população fala apenas essa língua, sem possuir dialetos. Este é um mito muito grande e muito difundido no nosso país, pois até mesmo a elite e intelectuais de renome acabam se deixando enganar por ele. Um exemplo disso é o último estudo sobre o povo brasileiro do antropólogo Darcy Ribeiro, publicado no jornal Folha de São Paulo, que é citado no livro Preconceito Linguístico, de Marcos Bagno: “É de assinalar que, apesar de feitos pela fusão de matrizes tão diferenciadas, os brasileiros são, hoje, um dos povos mais homogêneos linguística e culturalmente e também um dos mais integrados socialmente da Terra. Falam uma mesma língua, sem dialetos.”.
Sim, é verdade que a maioria da população brasileira fala português, mas é absurdo acreditarmos que há uma unidade nessa língua, ainda citando que não existem dialetos, visto que existem inúmeras culturas diferentes dentro do nosso país e dentro dessas culturas existem outros diversos fatores, como status social, origem, valores, entre outros. Como Carlos Alberto Faraco cita em seu livro Língua Portuguesa: Prática de Redação para estudantes universitários: “... somos um país multilíngue: aqui são faladas aproximadamente 120 línguas indígenas, várias línguas de imigração e ainda há resquícios de línguas africanas.”, o que nos mostra que não há possibilidade alguma de que alguém ainda acredite que não existe variedade no nosso português.
Desde crianças, na escola, aprendemos que existe o “certo e o errado” na língua portuguesa e começamos a construir nas nossas cabeças a ideia de que quem fala “errado” são as pessoas humildes, que não tiveram oportunidade de estudar e por isso não são pessoas cultas. É um preconceito que criamos a partir do ensino dos nossos professores, tanto os do ensino fundamental quanto os do ensino médio, e que também é muitas vezes mostrado na mídia ou através da nossa própria família. A verdade é que está na hora do nosso governo abrir os olhos e ver que as escolas devem começar a ensinar para os alunos que não existe isso de “certo e errado”, ou que há apenas uma norma padrão da língua que é correta, e sim mostrar que determinadas maneiras de falar dependem do contexto sociocultural em que as pessoas estão inseridas. É preciso entender que, assim como poderia soar estranho um executivo renomado falar gírias como “e aí galera, tu que é meu parceiro, falou aí pessoal” em público, também poderia causar estranheza um adolescente que convive em um meio onde as gírias são comuns começar a falar “Tu podes me alcançar o celular, por obséquio?”. É uma questão de contexto, realmente.
Quando se trata da língua, não existe erro. O que existe são as diversas variedades linguísticas que devem ser, acima de tudo, respeitadas e aprendidas na escola como algo positivo, e não com aquele velho preconceito. É sempre bom abrir um pouco a cabeça para perceber o mundo diferente e cheio de diversidade que existe ao nosso redor.


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