quarta-feira, 13 de junho de 2012

Português: A dificuldade está na idealização cultural.


A língua portuguesa para todo o brasileiro nato não é difícil. Afinal, desde a parte mais pobre do país até os mais ricos, todos conseguem se comunicar e se entender, ou seja, todos falam português. A dificuldade de que todos falam está na gramática, onde são encontradas regras fixas. O que tornou esse livro de “conceitos certos” difícil é que essas normas foram implantadas há muito tempo, porém, a língua continuamente se modifica na fala, tornando a língua falada cada vez mais distante da escrita por não se alterarem as regras gramaticais.
               O conceito de língua correta está ligado ao poder, à elite, que tem acesso à gramática e as suas normas, considerando assim que quem tem esse acesso é culturalmente superior. Esquecemos muitas vezes, porém, que cultura não é saber as normas fixas da língua portuguesa, nem gostar de música clássica, de pintores famosos ou saber tocar piano. Essa é uma cultura que o poder idealizou. Cultura é muito mais que isso, é conhecer a tradição da sua sociedade, é estar a par do que acontece a sua volta e do que há de errado em nosso país.
               O governo é um exemplo de quem mantém essa idealização, pois não faz questão de que a maioria da população tenha acesso à norma culta da língua, para que, dessa forma, quem domina continue dominador e quem é dominado continue se sentindo inferior por não ter esse acesso. O interlocutor pode associar, também, a dificuldade da nossa língua com a dificuldade que um estrangeiro tem de aprendê-la. Para todos, entretanto, que aprendem outro idioma que não seja o seu, é difícil. Um exemplo próximo disso é a língua inglesa, que os brasileiros consideram fácil pela similaridade de muitas palavras, mas se fosse fácil, não veríamos todos os dias pessoas desistindo de aprendê-la.
               Presumimos com isso que nenhum idioma apresenta dificuldade para quem foi instigado a praticá-lo desde pequeno. Se fosse, tanto aqui no Brasil como na China, onde a língua nata também é considerada difícil, crianças de 3 anos de idade não saberiam falar, o que não é verdade, pois com essa idade elas já dominam o seu idioma. Nenhuma língua é mais difícil que a outra, tudo depende do ponto de vista que estamos olhando: do gramatical, do idioma falado, de uma pessoa do país ou de um estrangeiro, pois a dificuldade está na idealização cultural, ou seja, continuar afirmando-se que a cultura está relacionada à elite.


Gabriela Musskopf

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