domingo, 27 de maio de 2012

Do preto e branco à atualidade

O filme Cidadão Kane lançado em 1941, do produtor Orson Welles,
representou um marco no cinema da época pela sua fotografia e também pelo enredo,
sendo até hoje mencionado como um dos melhores filmes da história do cinema. Com
flashbacks narrados pelos personagens ligados ao protagonista, Charles Foster Kane
interpretado pelo próprio Orson Welles, aos poucos é mostrado ao espectador uma
história que envolve dinheiro, manipulações jornalísticas, poder e interesses políticos.
É uma história criada há tanto tempo, que pode não ser tão atrativa para aos que
não são adeptos de filmes antigos em preto e branco no qual a linguagem e os trajes
remetem ao passado tornando-o um pouco 'chato', aos que são acostumados com as
inovações do cinema contemporâneo. Entretanto, aconselho este filme porque, apesar
de antigo, ele aborda assuntos atuais, ou seja, é um filme atemporal.
O filme é uma narrativa não linear que retrocede a vida de Charles F.
Kane. Inicia-se na morte do protagonista que em seu último momento sussurra
a palavra “Rosebud”, palavra esta que leva jornalistas a irem atrás da razão
e importância desta palavra na vida do poderoso Kane. A história de vida do
protagonista teve a grande virada quando ele recebe uma herança, tornando-se um
homem ambicioso, manipulador e amargo que acaba por não ter relações duradouras
com suas esposas e amigos, sendo um homem vazio e sozinho até o fim de sua vida.
Embora o filme em seu início não pareça tão interessante por possuir diálogos
e cenas que não chamam a atenção, tornando-se um tanto entediante, ao desenrolar
da trama, o espectador fica instigado com o significado do último sussurro de Kane.
Desse modo, dá o privilégio aos espectadores refletirem e finalizarem o filme de
acordo com o seu ponto de vista, diferente dos personagens que não ficam sabendo
o que era "Rosebud". Na minha opinião, "Rosebud" representava a vida que Kane
tinha antes da herança, a infância na sua total pureza, sem ambições e poderes, onde
somente o seu trenó o satisfazia.
Enquanto o público se envolve pelo enredo, com os relatos dos personagens
que vão montando a história de Kane como um quebra-cabeça, também pode
relacionar a maneira do protagonista manipular a sociedade através das manchetes
de seu jornal com as especulações sobre as mídias e seu papel nos dias de hoje. O
filme de Welles foi inovador e demonstrou o quanto o cinema pode abordar temas
cotidianos tornando o lazer um pouco mais cultural e contribuir com a opinião pública.
Afinal hoje em dia, rodas de amigos e debates universitários abordam se a mídia tem
ou não o compromisso com a verdade e com o público.

Erickson dos Santos

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