quinta-feira, 12 de julho de 2012

Onde está o maldito Wally?


      por Louise Zilz


E lá estava eu, num domingo chuvoso. O que se tinha de mais interessante para fazer era assistir ao Domingão do Faustão, ou seja: fossa total! Depois de encher o saco da tal Dança dos Famosos resolvi ceder aos pedidos incessantes de minha priminha para ajudá-la a achar o tal do Wally – mesmo sabendo que seria tão interessante quanto o que eu já estava fazendo, só que mais desgastante.
Admito que já procurei muito esse cara quando era criança, na maioria das vezes uma caçada frustrante. Óculos redondos, magrelo, camisa listrada e uma bengala na mão. Explique-me como uma pessoa tão discreta consegue se esconder tão bem? Lembro-me que eu também pedia ajuda a minha prima, a minha mãe, ao meu irmão. Hoje, estando na mesma situação deles antigamente, peço desculpas.
Então começou a caçada, e era uma questão de honra achá-lo. O ambiente era uma praia. Toda galera de roupa de banho. Concluí que desta vez a tarefa não seria difícil. A primeira coisa que vi foi uma mulher muito gorda caída sobre um homem magrelinho. Que dó do homem... O engraçado é que todos em volta estão olhando, mas ajudar que é bom ninguém quer né?
Após achar mil pessoas vestindo listrado, notei que teria que montar uma estratégia para achar o maldito. Coloquei-me no lugar de Wally. Onde eu gostaria de estar se estivesse naquele quadro? Sem a mínima dúvida logo corri os olhos para o mar. A única coisa que achei foi um grupo de pessoas se divertindo horrores fazendo uma pirâmide humana – o que me fez pensar o quão seria bom poder estar lá e não aqui nessa perseguição sem sentido.
Achei um grupo de gays, um velho de mãos dadas com um travesti, os bombados e as gostosas (que sempre se fazem presentes), um casal de caipiras que certamente pisava pela primeira vez em uma praia. Achei inclusive aqueles caras que cavalgam na praia no verão deixando tudo cheirando a estrume. Além de sentir o cheiro terrível, eu já conseguia sentir as risadas de Wally, que com certeza deveria estar bem confortável olhando para mim e se divertindo com a minha desgraça.
Resumindo, voltei ao excelentíssimo Domingão do Faustão. Sim, leitor, pode rir. Eu não achei o cara. E digo mais: se você o achou, nem pense em me dizer onde ele está, porque se eu encontrá-lo, não sei do que sou capaz de fazer.

quarta-feira, 11 de julho de 2012


Quem tem medo da geopolítica?
Leonel Itaussu Almeida Mello

Carolina Schroeder e Paulo Henrique Cancian


            O autor tem como objetivo principal do livro responder seguinte questão: “Em que medida permanece atual ou tornou-se obsoleto, nestes últimos anos do século XX, o pensamento geopolítico de Mackinder? (Mello, 1999, p.25)” Para isso, ele parte de uma releitura da obra de Mackinder, analisando sua teoria do poder terrestre que se resume na existência de uma “rivalidade secular entre (...) poderes antagônicos que se confrontavam pela conquista da supremacia mundial: o poder terrestre e o poder marítimo (Mello, 1999, p.11)”.
            Segundo Mello, os três pilares dessa teoria são: a idéia do mundo como unidade compacta; o primado da causalidade geográfica; e a oposição terra-mar. Mackinder, após uma reelaboração intelectual, chega a uma “percepção inédita” da ligação entre a porção líquida e sólida do planeta. Ele compreendeu que existia uma “unicidade da superfície líquida” o que o levou ao conceito de Grande Oceano. As terras emersas restantes formavam um único grande continente que ele denominou de Ilha Mundial (Europa, Ásia e África) e as Ilhas Periféricas menores (Américas e Austrália).
            Surge também o conceito de Heartland que denomina o grande núcleo mediterrâneo da Eurásia, “(...) em torno do qual se articulavam quatro regiões marginais: a Europa, o Oriente Próximo, a Índia e a China. (Mello, 1999, p.43)”. Segundo Mello, o Heartland é uma idéia estratégica com três características essenciais: região mais extensa de planícies do planeta; praticamente isolada do mundo; e com topografia plana. Mackinder sintetiza esse axioma do pensamento geopolítico: “Quem domina a Europa Oriental controla o Heartland; quem domina o Heartland controla a World Island; quem domina a World Island controla o mundo (Mello, 1999, p.56)”.
            O autor passa, então, a analisar a relação existente entre geopolítica inglesa, Geopolitik alemã e a política externa do III Reich. A influência de Mackinder sobre Haushofer é claramente exposta na visão desse sobre a importante relação entre Rússia e Alemanha. Porém, a influência de Haushofer sobre a política de poder de Hitler é “extremamente difícil” de se demonstrar. Segundo Mello, Hitler e Haushofer tinham concepções antagônicas sobre a política de aliança alemã no que diz respeito à Inglaterra e a Rússia (Mello, 1999, p.88).
            A investigação das influências de Mackinder é deslocada para  dois destacados expoentes da geopolítica norte-americana: Nicholas Spykman e Zbigniew Brzezinski. Spykman é o “formulador da teoria do Rimland, e percursor da estratégia de contenção do pós-guerra” (Mello, 1999, p.26). O Rimland, segundo o próprio Spykman, deveria ser visto como região intermediária situada entre o Heartland e os mares marginais. Ele funcionaria como uma “vasta zona amortizadora” entre os poderes marítimo e terrestre, apresentando, ainda, uma característica anfíbia que lhe permitiria se defender em terra ou em mar.
             Spykman contraria baseado em fatos da história a concepção global de Mackinder sobre a rivalidade entre o poder terrestre (Heartland – Rússia) e o marítimo (Ilhas costeiras – Inglaterra). Segundo ele, o que ocorreu durante as guerras foi justamente uma aliança entre os impérios. Mello chama a atenção para os indícios de que a essa oposição entre Heartland - Rimland foi fundamental para visão geopolítica e estratégica dos pactos militares multilaterais no auge da Guerra Fria, por exemplo, a Otan.
            Brzezinski, outro importante geopolítico estadunidense, foi autor do Game Plan, uma análise realista da confrontação americano-soviética. Segundo Mello, o autor desenvolve uma reflexão geopolítica e estratégica que através de um modelo sintético incorpora os principais aspectos das teorias do Heartland e do Rimland, pois, sua tese de que controlar a Eurásia é ter preponderância mundial não é nada original. Na visão de Brzezinski, um mapa pode tanto enganar como iluminar, portanto, “(...) o espaço e a posição relativa das massas continentais dependem sempre do tipo de projeção adotada” (Mello, 1999, p.141). A confrontação americano-soviética, segundo Brzezinski, apesar de, ter novos atores se resumia no velho choque entre uma potência oceânica e uma potência continental.
            Mello faz uma conexão entre Mackinder e o término do “Breve século XX”. Desse capítulo, é importante destacar a idéia de que com o fim do sistema bipolar tem-se a terceira vitória do poder marítimo sobre o poder terrestre ao longo do século. Além disso, é interessante o trecho onde Mello destina a China como a “única potência continental fronteiriça” com capacidade de ocupar o Heartland.
            Por fim, o autor responde a pergunta que, segundo ele, representa a razão deste livro. Para Mello, o pensamento de Mackinder é atual em certos aspectos, mas obsoleto em outros como: quanto à evolução da cartografia – descoberta da projeção azimutal eqüidistante que “permite fixar arbitrariamente seu centro de referência em qualquer ponto do planeta” (Mello, 1999, p.197); e quanto ao avanço da tecnologia – “ascensão do poder aéreo que relativizou a oposição oceanismo versus continentalismo” (Mello, 1999, p.211). 

Amor Incondicional
Carolina Schroeder

Todos os dias quando chego em casa, não importa que horas, e nem meu humor,  lá está ela para me recepcionar. Seu rabinho incansável denuncia a felicidade por me ter de volta. E eu me desfaço em carinhos e beijos de maneira a retribuir sua devoção.

Quer um remédio contra estresse ou solidão? Adote um cachorro! Ele lhe será grato e fiel até a última batida de seu coração. Segundo pesquisas realizadas, foi comprovado que a convivência com animais de estimação têm o poder de baixar a pressão arterial e o colesterol, auxiliando na saúde de seus donos.

Os cachorros são ótimos ouvintes em momentos que tudo que precisamos é desabafar. Eles percebem quando estamos tristes e vibram com  nossas alegrias. Pois, tudo que eles mais querem é estar junto de nós! Não importa nossa aparência e nem nosso poder aquisitivo, é um amor incondicional.

E assim como nós, eles também precisam desse afeto sem condições. Existem muitos cachorros abandonados, vivendo a própria sorte, esperando encontrar um lar. Mais do que nunca, os vira- latas estão em alta. E para entrar nessa onda, a marca de ração Pedigree resolveu contrariar o seu próprio nome, e lançar a campanha a favor deles: Adotar é tudo de bom!    

E é mesmo! No ano passado, sem pedir licença, uma pequena vira-lata de história desconhecida, invadiu minha vida. Nada mais foi como antes. Assustada e desconfiada, resquícios das lições aprendidas na rua, Sophia era tão magrinha que nem conseguia ficar em pé. Aos poucos, conquistou a todos e me transformou em uma pessoa melhor. 

PORTO ALEGRE (NÃO) É DEMAIS.
 Carolina Schroeder

            O orgulho dos gaúchos com a sua capital é constatado nas inúmeras vezes e na intensidade com que os porto-alegrenses afirmam: o por do sol de Porto Alegre é o mais bonito do mundo. Entretanto, há um bom tempo, essa é uma das poucas coisas que a cidade tem pra se orgulhar.
            A canção de Isabela Fogaça, Porto Alegre é Demais, cantada há tantos anos, como que um hino, e com tanta comoção por seus moradores, acaba por explicitar a mentalidade bairrista dos porto-alegrenses. Pois, se a capital dos gaúchos é tão perfeita, por que mudá-la? Esse tipo de pensamento acaba por refletir na falta de indignação da população com ineficiência que as autoridades vem atuando no governo municipal.
            A dita capital do Mercosul não possui metrô e está de costas para seu maior atrativo turístico. O descaso, ao longo dos anos, do poder público de Porto Alegre com os 70 km de orla que rodeiam o poluído rio Guaíba é vergonhoso. Sem uma visão de exploração turística da cidade e uma mentalidade provinciana contra projetos que visam transformar e qualificar seus pontos turísticos, a tentativa atual é desenvolver o turismo de negócio.
            Entretanto, as coisas parecem estar melhorando com a realização Copa do Mundo em 2014. As pessoas parecem estar abrindo os olhos para como aproveitar o potencial turístico da cidade, mas ainda há muito trabalho a ser feito. Porto Alegre pode ser demais, mas no momento ainda esta longe disso.

                                                    

Cidadão  Kane

 Carolina Schroeder

O filme é um relato da vida do magnata da imprensa estadunidense, Charles Foster Kane, a partir da sua morte no ano de 1941. Dentro desse contexto, o filme apresenta uma crítica implícita ao capitalismo, nas cenas que mostram o seu castelo Xanadu e o tamanho absurdo do seu acervo de obras de arte, e uma crítica explícita ao poder da mídia sob a sociedade da época, como exemplo o impacto que o escândalo extraconjugal causou em sua campanha eleitoral. Apesar de se tratar de um filme do início da década de 1940, ele tem uma temática muito atual, comparável a histórias de vida de magnatas de vários setores, inclusive brasileiros.
O roteiro desenrola-se quando um repórter é incumbido de encontrar o significado da palavra Rosebud, última palavra dita por Kane em seu leito de morte, a partir de entrevistas a familiares e conhecidos de Kane. O filme segue uma lógica não-cronológica que envolve os espectadores até o final, sendo seu grande triunfo a beleza das imagens (fotografia) e a ironia com que a trama, do homem rico que tinha tudo e que acaba sozinho e isolado, é contada.
Considerado um dos melhores filmes já lançados, Cidadão Kane, na minha concepção, peca em não explorar mais o contexto mundial da época, deixando no ar a influência que os jornais de Kane tiveram na construção da opinião pública a respeito da política internacional dos Estados Unidos, durante a 2ª Guerra Mundial. Ao mesmo tempo, reconheço e ressalvo a importância do filme como um marco na história do cinema mundial por ser crítico e questionador e não seguir o modelo das histórias com final feliz que até então persistiam.

Um caso de sábado à noite, por Julio Forster


Ei, você, você mesmo! Não ouse tirar os olhos agora que começou a ler, ou nossa relação será abalada. E não adianta me olhar com esses olhos assustados, vamos começar.
Semana passada eu fui a um show com um amigo (Gabriel) e duas amigas (Monique e Patrícia), bebida liberada e rock liberado – não os nomes não são fictícios, malditos sejam os clichês. Ora, devo explicar as relações antes de prosseguir: o Gabriel gosta da Monique, a Monique gosta de mim e eu gosto da Patrícia que, por sua vez, gosta do Pedro. O relógio marcava 3:27h, ao passo que eu ia até o banheiro resmungando sobre o copo vazio. Na volta encontrei a Monique, a qual começou a falar baixinho, em sussur... Aproximei-me. “Não aguento mais ficar assim” disse ela. Estávamos tão perto que podia sentir sua respiração e antes que alguma palavra saltasse do copo escutei uma voz passando “Valeu aí, cara!” era o Gabriel.
O que aconteceu não foi apenas um grande mal entendido. A Amizade foi abalada. Conforme as palavras reverberavam, lembrei-me do passado: conheço o Gabriel há dez anos. Já rimos juntos enquanto tomávamos banho de chuva, já brincamos de pega-pega horas a fio e ele já me ajudou em situações bem difíceis, como aquela prova terrível da quinta-série. Temos, então, um grande laço de amizade. A Amizade que foi abalada não foi essa: memórias de bons momentos juntos. Amizade é mais do que isso, Amizade é a capacidade de superar situações difíceis para ambos juntos.
Inevitável não me encontrar com o Gabriel no dia seguinte para discutir o futuro da nossa Amizade. Ambos estavam constrangidos com a situação, por mais tola que ela fosse. Percebi que nunca havíamos passado por um momento similar, por mais mentirosa que possa soar essa frase. Explicamos o que cada um sentira e o que cada um pensara e foi quando percebi que nós começamos a construir algo desconhecido até então: a Amizade.

Dissecando Kane, por Julio Forster


A  obra-prima de Orson Welles, laada em 1941, conta a história de Charles  Foster Kane, papel interpretado pelo próprio diretor. O filme Cidadão Kane propôs um novo papel para o cinema ao passo que critica o poder do jornal, tão quanto os valores capitalistas. A película não inova somente o tema, mas também as técnicas utilizadas para a filmagem.

Os movimentos de câmera são explorados com maestria, mesclando o uso de Plongée, onde a câmera  filma  de cima  para  baixo o ambiente e Contra-Plongée,  onde  ocorre o  contrário. Recurso similar ao Contra-Plongée foi amplamente utilizado na campanha eleitoral de Collor, promovendo a superioridade do candidato em foco.

No inicio do filme Welles surpreende o espectador ao mostrar a opulenta mansão de Kane e após uma a sobreposição de cenas nos leva para longe, para uma casa pequena onde nevava muito. Afastando a câmera percebemos que era um peso de papel na mão do protagonista, que se quebra ao encontrar o chão, pouco depois dele proferir sua última palavra: Rosebud.

A partir da introdução, chave para o entendimento da obra, saltamos para a morte de Kane retratada via filme dentro da obra - recurso que sinaliza ao espectador total atenção. A trama começa quando o coordenador do jornal onde o filme fora produzido não consegue entender o real significado de Rosebud e abre uma investigação.
 
A história segue com a constrão do caráter de Kane: nasceu no pensionato de  seus pais, porém não conviveu com eles, pois sua mãe recebera como pagamento de um pensionista a escritura de uma mina sem valor. Posteriormente  descobre-se  que a mina estava cheia de ouro, momento em que Kane é levado para a capital, onde seria educado por empresários.

A construção do personagem central não é mais linear, ela é transmitida ao  espectador por meio de um recurso inovador: os flashbacks. Desta forma, a incerteza sobre quem era Kane torna-se uma constante e novamente chama a  ateão espectador e o convida a ter uma interpretação independente.

A trajetória de Kane pode ser descrita de forma paralela ao seu romance com Susan Alexander. Um jovem idealista e compromissado com a verdade, representando a  fase do flerte e do envolvimento inicial. Desejando o que ele chamava amor do povo” um amor que ele ditaria como deveria ser seguido, o poder Kane torna-se obcecado em alcança-lo tal como ocorre com a voz de Susan: ele quer que as pessoas gostem dela, não importa o pro. Ao final da obra  ele encontra-se desencantado tanto na sua ânsia por poder, quanto no  amor. Kane mergulha-se no consumismo e cria uma grande mano repleta de nada.

Pouco  antes  de  Susan  o deixar, ela  reclama  que Charles  nunca  deu a ela  nada  de valor, momento em que pela primeira vez cronologicamente ele diz Rosebud. O gancho de toda a trama, era a marca do tre que Kane deixara na casa dos pais antes de partir para a capital. Ao lembrar-se da infância Kane conclui que tudo tem pro, mas nem tudo tem valor.