A obra-prima de Orson Welles, lançada em 1941, conta a história de Charles Foster Kane, papel interpretado pelo próprio diretor. O filme Cidadão Kane propôs um novo papel para o cinema ao passo que critica o poder do jornal, tão quanto os valores
capitalistas. A película não inova somente o tema,
mas
também as
técnicas utilizadas
para a filmagem.
Os movimentos de câmera são explorados com maestria, mesclando o uso de Plongée, onde a
câmera
filma
de cima
para
baixo o ambiente e Contra-Plongée,
onde ocorre o contrário.
Recurso similar ao Contra-Plongée foi amplamente utilizado na campanha eleitoral de Collor,
promovendo a superioridade do candidato em foco.
No inicio do filme Welles surpreende o espectador ao mostrar a opulenta mansão de Kane e após uma a sobreposição de cenas nos leva para longe, para uma casa pequena onde nevava muito. Afastando a câmera percebemos que era um peso de papel na mão do protagonista,
que
se quebra ao encontrar o chão, pouco depois
dele proferir sua última palavra: Rosebud.
A partir da introdução, chave para o entendimento da obra, saltamos para a morte de Kane retratada via filme dentro da obra - recurso que sinaliza ao espectador total atenção. A trama começa quando o coordenador do jornal onde o filme fora produzido não consegue entender o real significado de Rosebud e abre uma investigação.
A história segue com a construção do caráter de Kane: nasceu no pensionato de
seus pais,
porém não conviveu com eles, pois sua mãe recebera como pagamento de um pensionista a
escritura de uma mina sem valor. Posteriormente descobre-se
que a mina estava cheia de
ouro, momento em que Kane é levado para a capital, onde
seria educado por empresários.
A construção do personagem central não é mais linear, ela é transmitida ao
espectador por meio de um recurso inovador: os flashbacks. Desta forma, a incerteza sobre quem era Kane
torna-se uma constante e novamente chama a atenção espectador e o convida a ter uma
interpretação independente.
A trajetória de Kane pode ser descrita de forma paralela ao seu romance com Susan Alexander.
Um jovem idealista e compromissado com a verdade, representando a fase do flerte e do
envolvimento inicial. Desejando o que ele chamava “amor do povo” – um amor que ele ditaria
como deveria ser seguido, o poder – Kane torna-se obcecado em alcança-lo tal como ocorre com a voz de Susan: ele quer que as pessoas gostem dela, não importa o preço. Ao final da obra ele encontra-se desencantado tanto na sua ânsia por poder, quanto no
amor. Kane mergulha-se no consumismo e cria uma grande mansão repleta de nada.
Pouco antes de
Susan o deixar, ela
reclama
que Charles
nunca deu a ela
nada
de valor, momento em que pela primeira vez – cronologicamente – ele diz Rosebud. O gancho de toda a trama, era a marca do trenó que Kane deixara na casa dos pais antes de partir para a capital.
Ao
lembrar-se da infância Kane conclui que tudo tem preço, mas
nem
tudo tem valor.
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