quarta-feira, 11 de julho de 2012


Quem tem medo da geopolítica?
Leonel Itaussu Almeida Mello

Carolina Schroeder e Paulo Henrique Cancian


            O autor tem como objetivo principal do livro responder seguinte questão: “Em que medida permanece atual ou tornou-se obsoleto, nestes últimos anos do século XX, o pensamento geopolítico de Mackinder? (Mello, 1999, p.25)” Para isso, ele parte de uma releitura da obra de Mackinder, analisando sua teoria do poder terrestre que se resume na existência de uma “rivalidade secular entre (...) poderes antagônicos que se confrontavam pela conquista da supremacia mundial: o poder terrestre e o poder marítimo (Mello, 1999, p.11)”.
            Segundo Mello, os três pilares dessa teoria são: a idéia do mundo como unidade compacta; o primado da causalidade geográfica; e a oposição terra-mar. Mackinder, após uma reelaboração intelectual, chega a uma “percepção inédita” da ligação entre a porção líquida e sólida do planeta. Ele compreendeu que existia uma “unicidade da superfície líquida” o que o levou ao conceito de Grande Oceano. As terras emersas restantes formavam um único grande continente que ele denominou de Ilha Mundial (Europa, Ásia e África) e as Ilhas Periféricas menores (Américas e Austrália).
            Surge também o conceito de Heartland que denomina o grande núcleo mediterrâneo da Eurásia, “(...) em torno do qual se articulavam quatro regiões marginais: a Europa, o Oriente Próximo, a Índia e a China. (Mello, 1999, p.43)”. Segundo Mello, o Heartland é uma idéia estratégica com três características essenciais: região mais extensa de planícies do planeta; praticamente isolada do mundo; e com topografia plana. Mackinder sintetiza esse axioma do pensamento geopolítico: “Quem domina a Europa Oriental controla o Heartland; quem domina o Heartland controla a World Island; quem domina a World Island controla o mundo (Mello, 1999, p.56)”.
            O autor passa, então, a analisar a relação existente entre geopolítica inglesa, Geopolitik alemã e a política externa do III Reich. A influência de Mackinder sobre Haushofer é claramente exposta na visão desse sobre a importante relação entre Rússia e Alemanha. Porém, a influência de Haushofer sobre a política de poder de Hitler é “extremamente difícil” de se demonstrar. Segundo Mello, Hitler e Haushofer tinham concepções antagônicas sobre a política de aliança alemã no que diz respeito à Inglaterra e a Rússia (Mello, 1999, p.88).
            A investigação das influências de Mackinder é deslocada para  dois destacados expoentes da geopolítica norte-americana: Nicholas Spykman e Zbigniew Brzezinski. Spykman é o “formulador da teoria do Rimland, e percursor da estratégia de contenção do pós-guerra” (Mello, 1999, p.26). O Rimland, segundo o próprio Spykman, deveria ser visto como região intermediária situada entre o Heartland e os mares marginais. Ele funcionaria como uma “vasta zona amortizadora” entre os poderes marítimo e terrestre, apresentando, ainda, uma característica anfíbia que lhe permitiria se defender em terra ou em mar.
             Spykman contraria baseado em fatos da história a concepção global de Mackinder sobre a rivalidade entre o poder terrestre (Heartland – Rússia) e o marítimo (Ilhas costeiras – Inglaterra). Segundo ele, o que ocorreu durante as guerras foi justamente uma aliança entre os impérios. Mello chama a atenção para os indícios de que a essa oposição entre Heartland - Rimland foi fundamental para visão geopolítica e estratégica dos pactos militares multilaterais no auge da Guerra Fria, por exemplo, a Otan.
            Brzezinski, outro importante geopolítico estadunidense, foi autor do Game Plan, uma análise realista da confrontação americano-soviética. Segundo Mello, o autor desenvolve uma reflexão geopolítica e estratégica que através de um modelo sintético incorpora os principais aspectos das teorias do Heartland e do Rimland, pois, sua tese de que controlar a Eurásia é ter preponderância mundial não é nada original. Na visão de Brzezinski, um mapa pode tanto enganar como iluminar, portanto, “(...) o espaço e a posição relativa das massas continentais dependem sempre do tipo de projeção adotada” (Mello, 1999, p.141). A confrontação americano-soviética, segundo Brzezinski, apesar de, ter novos atores se resumia no velho choque entre uma potência oceânica e uma potência continental.
            Mello faz uma conexão entre Mackinder e o término do “Breve século XX”. Desse capítulo, é importante destacar a idéia de que com o fim do sistema bipolar tem-se a terceira vitória do poder marítimo sobre o poder terrestre ao longo do século. Além disso, é interessante o trecho onde Mello destina a China como a “única potência continental fronteiriça” com capacidade de ocupar o Heartland.
            Por fim, o autor responde a pergunta que, segundo ele, representa a razão deste livro. Para Mello, o pensamento de Mackinder é atual em certos aspectos, mas obsoleto em outros como: quanto à evolução da cartografia – descoberta da projeção azimutal eqüidistante que “permite fixar arbitrariamente seu centro de referência em qualquer ponto do planeta” (Mello, 1999, p.197); e quanto ao avanço da tecnologia – “ascensão do poder aéreo que relativizou a oposição oceanismo versus continentalismo” (Mello, 1999, p.211). 

Nenhum comentário:

Postar um comentário