domingo, 27 de maio de 2012

O milagre de Orson Welles


“A revolução”
por Rafael Giron Martinenco

Todos apreciadores de cinema ou aqueles que simplesmente gostam de
comer pipoca vendo filme, devem usar aproximadamente duas horas do seu
dia para assistir uma grande obra do cinema, um filme recheado de inovações,
digno de desfilar no tapete vermelho do Oscar. Estou falando de Cidadão
Kane, 1942, Orson Welles, um dos melhores e mais revolucionários filmes que
já assisti.

Charles Foster Kane é um poderoso homem da mídia americana, que morre
início do filme, todavia, sua morte é mais lembrada do que qualquer outra, onde
a pronúncia de sua última palavra, “Rosebud”, passa ser o principal alvo das
investigações de Thompson, a figura mais misteriosa da obra. A imagem de
Thompson é sempre obscura no filme, o que dá um ar “Sherlock Holmes” ao
caráter do personagem, que busca a todo o momento as informações sobre a
vida de Kane. Thompson passa a ser a referência das muitas informações a
respeito de Kane, o que se passa ao longo dos flashbacks são os relatos que
são contados a ele, isso o torna um personagem “principal que não aparece
tanto”.

Mesmo com todos depoimentos e estudos de Thompson, o significado de
Rosebud, sua maior busca, não é feita com sucesso, entretanto, o real objetivo
do filme, de romper Kane no tempo acontece. Os relatos provam que a vida
de Charles Foster Kane realmente não foi toda a maravilha que se imaginava,
com muito luxo, felicidade e até uma mansão gigantesca, com zoológico
privado, a famosa Xanadu. A vida de Kane indiretamente pode ser comparada
com grandes heróis que já existiram, até mesmo Adolf Hitler, pode parecer
estranho, mas o poder de manipulação das pessoas e o comportamento

carismático estão presentes em ambos, já que Kane era dono de grande parte
da mídia americana. Kane possuía muitos adoradores, seguidores e pessoas
que o exaltavam, em uma cena do filme há um encontro do personagem com
funcionários e amigos, onde todos cantam uma música falando sobre o quão
maravilhoso era Kane em suas vidas, o mesmo vale para Adolf Hitler, visto
como o novo Deus para o povo alemão. É evidente que ao final da guerra
toda a verdade aparece sobre Hitler, para Kane nem tanto, apesar de que a
interpretação que tirei do filme era de que Charles Foster Kane tinha tudo e
nada ao mesmo tempo na sua vida.

Uma grande obra como essa pode ter uma influência até mesmo da
população diante dos “poderosos chefões” existentes. O filme Cidadão
Kane foi alvo de críticas por parecer à síntese da vida de William Randolph
Hearst, criador do jornalismo sensacionalista americano. No Brasil, o
documentário “Muito além do Cidadão Kane”, que retrata a vida de Roberto
Marinho, antigo presidente da maior rede de televisão brasileira, também faz
alusão à obra de Welles. As relações entre Kane e outras figuras famosas
são múltiplas, já que Kane era rico, famoso e dono de coisas importantes
assim como muitas pessoas no mundo. Todavia, a relação de Kane e Roberto
Marinho traz um aprofundamento que é indiretamente visto como algo que
corrompe a nossa sociedade, Roberto Marinho possui por trás de sua imagem
uma série de atos que destroem a sua imagem, mas isso não difundido entre a
população brasileira, já que a censura se encarrega de limitar os espaços onde
se têm acesso às chamadas “conspirações”.

O filme apresenta do início ao fim certo mistério a respeito de Kane, com
certeza é daqueles que faz grudar os olhos na tela sem querer parar de
assistir para ir ao banheiro. Uma série de inovações cinematográficas, enredo
inteligente, um diretor inigualável e relações com a vida real tornam Cidadão
Kane um dos poucos filmes que podem se caracterizar eternos.

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