terça-feira, 29 de maio de 2012

Uma Vida Desmembrada - Resenha do filme Cidadão Kane


Música dramática. Em um grande plano, a câmera mostra uma cidade. Durante um longo instante nossos olhos nos enganam, mas aos poucos, conforme a câmera sobrevoa a imagem, nossa mente percebe o que está errado, a grande cidade revela-se um amontoado de móveis. Os móveis do magnífico senhor Charles Foster Kane. A cidade do magnífico senhor Charles Foster Kane está em chamas. “Jogue este lixo”.  Assim termina Cidadão Kane.
O pequeno Kane veio de família pobre, mas ainda criança, após os pais receberem uma mina de ouro, supostamente sem valor, como pagamento, passou a ser criado por um banqueiro multimilionário. Na juventude, herdou um grande patrimônio em ações, imóveis e outros bens. Entre estes bens estava um pequeno e falido jornal, The Inquirer, que serviu como meio de manipulação para o idealista Kane. Depois de uma reformulação completa o jornal se torna influente, principalmente pelo sensacionalismo, dado às notícias. Com isso, Charles torna-se conhecido no país inteiro e passa a gozar de grande reputação, sobretudo entre a população pobre. Kane tenta entrar na política, candidatando-se ao Governo do Estado de Nova York de forma independente; só não vence por conta da descoberta de um escândalo amoroso, o “caso” de Kane com a cantora Susan Alexander, que mais tarde se tornaria sua segunda esposa – a primeira havia sido a sobrinha do presidente dos EUA, Emily Norton.
Com o passar dos anos, o magnata vai se tornando uma pessoa cada vez mais rude, hostil e solitária. Vivendo em um palácio tão suntuoso quanto frio, com dezenas de esculturas e quadros caríssimos, Kane definha ao lado de sua mulher, Susan, que, cansada do marasmo do lugar e da frieza do marido, resolve abandoná-lo, o que foi o golpe de misericórdia para um homem cercado de pessoas, mas, na verdade, abandonado por todos.
O que afinal vale a vida de um homem?
Kane tinha tudo que um homem pudesse querer: dinheiro, poder, mulheres, diversão. Nada disso, porém, parecia preencher o vazio que Charles sentia. Ele sempre queria mais, afetava a todos que o cercavam com a sua ganância. Por isso, a imagem da cidade no final do filme é tão significativa, uma vez que ela nos mostra o mundo de Kane, o grande orgulho do magnata, a cidade dentro do palácio Xanadu, sendo estraçalhada e queimada após a morte do fundador. Uma cidade sem significados para qualquer um, mas que representava a existência de um homem. De um homem vazio e solitário, que precisou da sua própria cidade, do seu forte, para sentir-se seguro. Essa imagem traduz o drama de Kane de um modo tão forte que o espectador se revolta e se emociona com o protagonista. Com o pequeno Charles, com o grande Kane.

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