A educação que
eu recebi em casa, e na escola pelos meus educadores, sempre me levaram a
acreditar que para ter um bom futuro e uma carreira profissional sólida, que me
oferecesse um bom retorno financeiro eu deveria estudar e me preparar para ser
um profissional diferenciado no mercado de trabalho, na área em que eu
resolvesse atuar. Quando criança, essa era a minha verdade universal, era assim
que as pessoas que me orientavam faziam com que eu visse o mundo, e assim eu pensava
que a vida era para todos. Hoje adulto, agradeço pelos valores éticos que me
foram dados e sou grato a todas as pessoas que se dedicaram na formação do meu
caráter e da minha personalidade. Porém infelizmente enxergo que a minha antiga
verdade, não é, e nem nunca foi universal. Somos todos os dias bombardeados com
notícias de corrupção e descaso dos nossos políticos, os funcionários públicos
mais bem pagos do país, não satisfeitos em já serem bem remunerados, ainda
roubam e continuam a receber seus gordos salários todos os meses. Assim, ao
invés de retribuir o que ganham à sociedade, permanecem em eternas CPIs,
investigando um ao outro e deixando os assuntos de interesse público de lado.
Aí, eu me questiono, Será que foram esses os valores passados para essas
pessoas por suas famílias e educadores? A onde está a meritocracia na carreira
pública?
Falar ou
escrever sobre política no Brasil, um dos países com os maiores índices de
corrupção e com as mais altas cargas tributárias pode parecer entediante e
chato. É lidar com um assunto no qual todos já possuem uma opinião formada, que
acredito ser unanime entre as pessoas honestas, e ainda correr o risco de ser
redundante. Todos nós brasileiros estamos cansados de ler e ouvir sobre como os
nossos políticos conduzem com graça e despreocupação a administração pública.
Quero falar, especificamente sobre os altos salários de Brasília; racionalmente,
tentando evitar ao máximo que meus sentimentos revoltados de cidadão honesto
acabem por me atrapalhar. É de conhecimento geral que nossos deputados e
senadores estão entre os mais bem remunerados a nível mundial. A faixa salarial
é de vinte e sete mil reais por mês, valor esse que já é superior à realidade
da maioria dos brasileiros, fica ainda maior se considerado os benefícios. Estima-se
que hoje o salário desses executivos públicos possa chegar tranquilamente à
casa dos cem mil reais mensais, devido aos auxílios de moradia, passagens
aéreas, verbas para gabinete, carros, telefones, auxílios psicoterápicos,
indenizações e combustível. O questionamento é inevitável, e no primeiro
momento me vem à cabeça as palavras da minha mãe: “filho, para ser bem sucedido
no futuro você vai precisar estudar muito, conquistar um bom emprego...”. A
idéia que pra mim é uma realidade, é que para ocupar um cargo qualquer, a
pessoa ou candidato a vaga deve estar apto e qualificado para o mesmo. Assim,
no futuro me vejo ingressando em uma empresa como estagiário ou em um programa
de “treinee”, concluindo meu curso superior, me preparando para uma
pós-graduação ou mestrado, para que futuramente eu venha a ter um bom emprego e
uma boa remuneração.
Então, se essa
é a minha realidade e a de muitos outros brasileiros porque que a realidade de
Brasília tem que ser tão diferente? Porque não temos trabalhadores públicos
qualificados, instruídos e principalmente, honestos e que mereçam ocupar seus
cargos e receber seus generosos salários. Não vou desmerecer o processo
eleitoral brasileiro que sem dúvidas é um dos maiores símbolos da nossa
democracia, muito menos fazer qualquer tipo de apologia à ditadura. Pelo
contrário, sou entusiasta da liberdade e repudio qualquer forma de repressão, mas
não aceito que bandidos e semi-analfabetos se candidatem às eleições para cargos
de tão importante função. As diversas falhas existentes na regulamentação
desses ofícios facilitam com que cada vez mais tenhamos candidatos, cujos
únicos objetivos são atender as suas vontades de ascensão social, política e de
carreira. Valores distorcidos, egocêntricos e ambiciosos. O que é um absurdo
quando tratamos de pessoas que deveriam trabalhar pelo bem estar e pelos
direitos de toda a sociedade. Que deveriam ter implícita a idéia de ter o outro
como prioridade, e assim retribuir de alguma forma a confiança, o prestígio, a
remuneração e o cargo que lhes foram confiados.
E a culpa nem
sempre é do eleitor, é comum vermos algumas pessoas culpando a grande massa
pelos políticos desqualificados e corruptos eleitos, mas saibam que nem sempre
os deputados federais que lá estão, por exemplo, são aqueles escolhidos pelo
voto do povo. Muitos realizam manobras políticas, que na minha opinião são
falhas da legislação que regulamentam esses cargos, para colocar colegas ou
indicações partidárias nas bancadas. Isso se dá quando o titular solicita
afastamento do cargo, seja por licença saúde, para candidatar-se a outros
cargos ou até mesmo por interesses pessoais. Assim o seu suplente, que na
maioria dos casos é desconhecido dos eleitores do titular, assume seu lugar com
todos os benefícios. Muita coisa precisa ser feita pra que seja feita uma
“limpeza” nos salões de Brasília, e isso depende dos esforços e da voz ativa da
população. As pessoas que lá trabalham, são pagas com o dinheiro público, então
temos o direito de cobrar medidas preventivas à corrupção. Um exemplo de que
podemos ajudar a mudar o lamentável cenário atual, foi a elaboração da Lei
Complementar 135/2010 conhecida como lei da Ficha Limpa que foi originada por
uma iniciativa popular que reuniu cerca de 1,3 milhões de assinaturas. A lei
torna inelegível por oito anos um candidato que tiver o mandato cassado,
renunciar para evitar a cassação ou for condenado por órgão colegiado. A Lei da
Ficha Limpa já é válida para as próximas eleições e é uma vitória da população
brasileira.
Atualmente
existe a discussão sobre a extinção do décimo quarto e décimo quinto salário
dos quinhentos e trinta parlamentares. Acho a discussão plenamente pertinente
ao momento em que vivemos, acredito que um cargo público deva ser igual aos
cargos de qualquer área. E a extinção desses dois salários extras pra mim ainda
é pouco. Vou além, acho que devemos lutar pela redução dos salários,
gratificações e dos benefícios. Defendo uma remuneração mais próxima da
realidade brasileira, pois assim, aos poucos, acredito que vamos conseguir
eliminar aqueles interessados apenas em enriquecer e que nada contribuem para
melhorar a vida do povo. É preciso elaborar um plano de carreira para nossos
parlamentares, com salários mais justos e um sistema de gratificações por
produtividade, horas trabalhadas e absenteísmo. Acredito que seria eficiente
gratificar mensalmente os parlamentares com altos índices de presença nas
assembléias, gratificar individualmente por projeto de lei elaborado,
apresentado e aprovado, coletivamente a todos diante a aprovação de uma nova
lei. Imaginem um Senado ou uma Câmara de Deputados na qual existisse uma grande
gratificação anual, para todos os funcionários, quando no decorrer de um ano
não houvesse nenhuma denúncia de corrupção ou desvio de dinheiro público. Haveria
uma cobrança entre eles mesmos por honestidade e clareza na gestão. Um militar
transferido, não tem direito a passagens aéreas todo mês para visitar seus
familiares. O parlamentar que antes foi um candidato voluntário sabia que se
fosse eleito teria de trabalhar em outra cidade, e porque esse ex-candidato,
que agora deve trabalhar em outra cidade, não se muda com toda a sua família,
como fazem nossos militares cada vez que são transferidos?
Não são todos
os políticos, Deputados ou Senadores que são desonestos, sei que muitos são
pessoas íntegras trabalhadores honrados, e que realmente estão lá tentando
fazer a diferença. Acabam infelizmente sendo vistos, de maneira negativa pela
sociedade, ou até mesmo são injustamente acusados de algo que não fizeram, por
culpa dos seus colegas de trabalho. Pagamos uma fortuna para eles tornarem a
nossa vida melhor, para administrar nossos recursos e nossas cidades, e ao
invés disso, somos ludibriados. Imagine que você tem na sua empresa uma
empregada de extrema confiança e um dia você descobre que ela lhe roubou,
desviou uma considerável quantia do caixa da empresa, você vai tolerar? Não. E
porque toleramos e convivemos com a corrupção no nosso país? A situação é a
mesma, eles são nossos funcionários. Porque remunerar com salários que vão
contra a lógica da sociedade, da economia e do mercado de trabalho, pessoas que
não estão produzindo, que não possuem conduta adequada e que em alguns casos,
nem sabem quais são as atribuições de um Deputado Federal. Porque vamos
continuar pagando nossos funcionários, para que eles fiquem um investigando os
outros? Estamos custeando um reality show vergonhoso, que ninguém assiste. Você
conhece alguém que assiste a TV Senado? Eu não.
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