terça-feira, 3 de julho de 2012

Cidadão Kane, uma obra de Toland e Welles, por Lucas Fagundes

Produzido em 1941, Cidadão Kane, de Orson Welles é um divisor de águas para a sétima arte. A expectativa de um espectador diante de um filme nunca mais fora a mesma depois dessa magnífica obra ser exibida.
No leito de sua morte, o magnata da mídia Charles Foster Kane pronuncia sua última palavra: Rosebud. Uma palavra aparentemente desconhecida de todos. Um enigma. Instigado, o repórter Thompson vai atrás do significado dela e é através dessa busca que se desenvolve o enredo da obra. O jornalista viaja o país entrevistando pessoas que foram ligadas fortemente à Kane. Seu tutor, ex-mulher, melhor amigo, funcionários. São com os relatos dados por eles que o filme traça a vida, a ascensão e a queda do poderoso Kane. Só pelo roteiro, a obra de Welles já merece estar entre os maiores filmes do século passado. Inovador para a época, fugindo do padrão. Mas não é isso que a torna tão comentada e assistida mais de 60 anos após o seu lançamento. Greg Toland. Esse nome é sinônimo de inovação e ousadia para o cinema. Amigo de Welles, Toland foi o responsável pela fotografia do filme. Criou técnicas, uso algumas rejeitadas anteriormente. Teve carta branca pra ousar, e assim fez. Foi o primeiro filme a apresentar o deep focus, tipo de filmagem que coloca todos da cena no mesmo foco, movendo os atores do background ao frontground com uma naturalidade espantosa. Trabalhou também com muitas sombras e com luzes baixas, muito usadas em filmes de terror da época, dando um toque de suspense, de apreensão no filme que fizeram diferença. A disposição em cena dos atores é espetacular, parece que o espectador tem uma vista panorâmica, vendo tudo e todos ao mesmo tempo sem perder nenhum detalhe de nada. Feito imitado com sucesso por Coppola na trilogia The Godfather décadas depois. Técnica utilizada em praticamente todos os filmes de hoje, que passa batida por quase todos, a filmagem do teto, com a câmera descendo do céu, do além, também teve origem com Toland. Para esse tipo de cena foi necessário inventar novas posições para os microfones, para a iluminação. Não vindo de Toland, mas igualmente espetacular, é a maquiagem do filme, principalmente a de Kane. Fizeram o magnata da mídia ir envelhecendo ao passar do filme de forma natural, fazendo parecer que Welles, de fato envelhecia ao longo das filmagens.
Só pelo roteiro, pelos atores, pela interpretação de Welles o filme já merece o destaque que tem. Mas o que torna o filme ser considerado o maior de todos os tempos por inúmeros críticos foi a inovação, as técnicas de vanguarda, e o responsável por isso tem um nome, e não é Orson Welles. Greg Toland foi o responsável por transformar algo excelente em uma obra histórica, comentada e resenhada mais de 60 anos depois.

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