segunda-feira, 14 de maio de 2012

Cidadão Kane, o melhor exagero por Carolina Mendes


 Consagrado o melhor filme de todos os tempos pelos especialistas no assunto, Cidadão Kane (Citizen Kane, EUA), lançado em 1941 e produzido pelo diretor e também protagonista Orson Welles através dos estúdios RKO, conta a história do magnata da imprensa Charles Foster Kane. Já é de praxe ver e ouvir que esse filme é maravilhoso, inovador e mais uma enorme variedade de elogios, mas será que ele é realmente tudo isso que falam?
            O início do filme se dá através da morte de Charles Foster Kane e a última palavra pronunciada antes disso: “Rosebud”. Então, um grupo de jornalistas se reúne para investigar e tentar descobrir qual o significado dessa palavra para o magnata. E é aí que está a grande inovação do filme: o enredo completamente fragmentado, que já inicia com a morte de Kane e irá revelar lembranças de pessoas que conviveram com ele, mostrando facetas desconhecidas e a sua verdadeira personalidade, do ponto de vista de cada um deles.
            O desenrolar da trama mostra o jornalista buscando as pessoas que estiveram mais próximas e bem conheciam Kane para tentar descobrir qual o significado da palavra “Rosebud”. Até o final do filme, o jornalista acaba não descobrindo o verdadeiro significado, mas passa a conhecer diferentes lados do magnata da imprensa, o que é a parte mais genial do filme, pois ele deixa o final em aberto para que cada um possa refletir sobre o que poderia significar para Kane a palavra “Rosebud”.
Kane veio de família humilde, mas quando ainda era criança passou a ser criado por um tutor muito rico (e o filme mostra que ele não queria ficar longe da família). Assim que cresceu, ele herdou um grande patrimônio com vários bens e, entre eles, estava um pequeno jornal falido, The Inquirer, que foi a primeira (e talvez única) coisa que interessou o jovem. Após reformular todo o jornal, contratar os melhores e mais famosos jornalistas, este passou a ser muito influente (aqui, Orson Welles faz uma crítica ao sensacionalismo da mídia, um assunto que, não se pode negar, é muito atual, pois a mídia pouco mudou de lá pra cá). Kane tentou entrar na política, mas obteve fracasso. Depois de se separar de sua primeira esposa, Emily Norton, ele casou-se novamente com a “cantora” Suzan Alexander, para quem construiu um teatro e que relatou ao jornalista um lado extremamente cansativo e frio de Kane. Eles viveram em sua suntuosa mansão, onde o hobby do magnata era colecionar esculturas e quadros, até que Suzan se cansou e o abandonou. Desde então, Kane ficou cada vez mais amargo, rude e grosseiro com seus amigos e acabou vivendo solitário em sua mansão, onde morreu.
            Este enredo é mostrado através de flashbacks, no estilo das entrevistas, e a partir disso é montado o quebra-cabeça sobre a vida de Charles Foster Kane. Claro, para a época em que foi lançado, foi um filme inovador, pois até então as pessoas estavam acostumadas com a narrativa linear e também foram utilizadas várias técnicas novas de filmagem na sua produção. Mas se pararmos pra pensar, já não vimos, atualmente, filmes muito semelhantes ou então muito superiores?
Não podemos desmerecer Cidadão Kane, levando em conta todos os motivos antes citados, mas aí ele levar o título de “melhor filme de todos os tempos” é exagero. Se não fosse uma professora ter recomendado, possivelmente eu jamais o teria assistido, nem sequer ficaria sabendo de sua existência. Agora, em qualquer lugar que eu leia sobre o filme aparecem comentários de que ele é o melhor filme de todos os tempos, aquele que revolucionou o cinema com suas maravilhosas técnicas, entre outras opiniões que são completamente exageradas.
Existem inúmeras superproduções atuais que são muito melhores que Cidadão Kane, que não são maçantes, que prendem muito mais o público e também tratam de assuntos que podemos refletir. Sem contar que os atores são extremamente melhores, as trilhas sonoras dão um toque à mais e as imagens são coloridas, o que torna muito mais agradável ao público.
Mesmo que Cidadão Kane tenha direito à inúmeros méritos e elogios, ainda fica a sensação de exagero. Vale a pena ser visto, principalmente pelo exercício de reflexão sobre a vida e as relações de Kane, mas não com a (falsa) ideia de que seja o melhor filme de todos os tempos.

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