quarta-feira, 16 de maio de 2012

Muito Aquém do Cidadão Kane

Marco Rohenkohl


OK, não sou expert em cinema ou tenho grandes conhecimentos técnicos sobre o assunto, falo na condição de expectador que procura assistir bons filmes. E Cidadão Kane é um dos que figuram na lista de melhores de todos os tempos. CK ostenta a fama de revolucionário e brilhante, e de fato, o diretor Orson Welles criou uma série de efeitos e recursos visuais nunca vistos à época e que até hoje influenciam a indústria cinematográfica de alguma forma. Alguns ainda o citam como melhor filme de todos os tempos. Este filme também teve grande impacto pela relação do protagonista, Charles Foster Kane, com William Randolph Hearst, gigante da mídia na época.

O filme começa com Kane pronunciando sua última palavra antes da morte: “rosebud”. A partir daí se desenrola a história de Kane sobre diferentes pontos de vista, apresentando o protagonista desde sua infância quando herda o império que tomaria conta até seus últimos dias, passando pelos casamentos e tentativa de eleição a presidente.

Porém, o filme é, assim por dizer, chato. À parte do mérito técnico, que hoje já não surpreende, o filme falha no quesito entretenimento. Não há um envolvimento emocional com o expectador, onde são apresentados aspectos que possam atrair o espectador para junto do personagem, como por exemplo, uma cena em que Kane exponha intimamente seus medos, frustrações ou motivações. Vemos na sua infância como ele herdou um império, mas não uma justificativa para a mudança do menininho com seu trenó à motivação do homem quer se candidata a presidente. Parece tudo meio randômico. Talvez o hiato de aproximadamente 20 anos que separam o garoto do trenó da decisão pelo jornal teriam enriquecido muito o perfil de Kane. Também não se sente nenhuma atração enquanto vemos as amizades e relacionamentos que Kane tenta estabelecer com os demais personagens, pois caem na mesma superficialidade do perfil do protagonista. Não percebi nenhum momento em que eu tenha me importado com o que poderia acontecer, ou com o que teria acontecido a algum personagem. Além disso, há pouco humor nos diálogos e cenas ao longo do filme. Algumas exceções seriam o diálogo de Jedediah e Kane, onde o melhor amigo do milionário está bêbado, e a segunda esposa de Kane, que na tentativa de ser irritante com o próprio marido, consegue ser desagradável também à audiência com seus gritos e resmungos. Mas essas e outras cenas apresentam um pequeno impacto emocional no espectador. Senti falta de uma cena realmente engraçada, emocionante, intrigante ou dramática, que seja verdadeiramente impactante.

A grande ironia sobre o filme não é retratada na tela: O fato de Welles encenar a influência da mídia nas decisões da massa e o reflexo que teve a influência de Hearst na bilheteria e relativo fracasso no Oscar. Minha grande dificuldade em falar do filme é realmente o fato de achar ele muito plano, mediano, monótono. Sem grandes momentos bons, nem ruins, que proporcionassem alguma emoção ou maior interesse. Talvez eu tenha assistido com muitas expectativas considerando o título de melhor filme de todos os tempos que CK ostenta, mas para mim oferece algo aquém do que esta fama propõe. Sendo assim, não o vejo como um filme para todo mundo. Eu não recomendaria Cidadão Kane a alguém a procura de um bom filme, mas sim àqueles que procuram filmes cult ou a alguém que prefira dissecar os aspectos técnicos e contextualizados de um filme. Em 1941, talvez um clássico. Mas hoje em dia, chato.

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