segunda-feira, 14 de maio de 2012

INSENSATO CIDADÃO

                                                                                                                         Alice Garcia

            Produzido, dirigido e protagonizado por Orson Welles, Cidadão Kane (Estados Unidos, 1941) é um filme dramático e impactante no qual são mostradas as diversas faces do poder na época em que o capitalismo se instalava na sociedade. Este é considerado por muitos a mais bela obra cinematográfica criada até hoje; não compartilho, porém, desta opinião.
            É nos apresentado, já de início, o personagem principal, Charles Foster Kane, em seu leito de morte, suspirando sua ultima palavra ‘’rosebud’’. E é exatamente em torno desta, a qual se torna um enigma, que a história do filme ganha espaço.
Tentando decifrar seu significado, o jornalista Thompson (interpretado por Joseph Cotten), juntamente com seus auxiliares de imprensa, entrevista muitos daqueles que foram, de alguma maneira, próximos à Kane. A partir destas entrevistas nos são reveladas inúmeras informações sobre sua vida, as quais nos permitem perceber suas ambições, mágoas e problemas. E é através de memórias e lembranças dos entrevistados que tomamos conhecimento da vida e história do protagonista. Não é possível, entretanto, até então, compreender a misteriosa palavra.
Kane é revelado sendo dominador e controlador sobre aqueles que o cercam, sempre manipulando para realizar seus anseios. Era um magnata da imprensa de sua época, se tornando cada vez mais influente na sociedade em que se inseria. Em seu caráter podemos identificar facilmente traços de um capitalista conhecedor de meios e estratégias para atingir seus objetivos, porém com valores fúteis e superficiais, típicos da mentalidade que se formava no contexto.
            O mais interessante, contudo, é a forma como é desvendado o significado de ‘‘rosebud’’. Tornando somente os espectadores conhecedores de tal verdade, em sua última cena, o filme apresenta o fim deste mistério.
            Não se tratando mais da história do filme e sim de sua estrutura e montagem, podemos analisar diversos aspectos, ressaltando as inúmeras inovações para o cenário do cinema mundial que ele traz. Welles faz uso de um plano-sequência revolucionário, com flashbacks, cenas longas e sem cortes, utiliza sombras para um efeito dramático, filma a partir de lugares não convencionais, entre outras características pouco usuais para a época. Estas inovações certamente foram essenciais para que o filme obtivesse a repercussão que teve.
            Saliento também a polêmica que este filme trouxe. Muitos magnatas e empresários da época se sentiram ofendidos pela maneira como sua imagem profissional estaria sendo representada. Houve até boatos de que o filme teria sido inspirado em William Randolph Hearst, grande empresário da comunicação. Este foi inclusive contrário ao lançamento da obra de Welles. O filme, todavia, apenas apresentava fatos comuns a vida de Hearst.
Por muitos e muitas vezes este foi considerado o melhor filme da história da sétima arte. Foi o premiado com o Oscar de 1941, assim como muitos de seus atores e produtores (melhor direção, melhor produção de arte, melhor roteiro, melhor ator, entre outros). No entanto, não aprecio Cidadão Kane como o melhor filme já feito. Acredito que se considerarmos os padrões, estilo, regras e cultura da época em que foi criado, a ele devem ser atribuídos muitos elogios, críticas positivas e certamente um lugar de destaque em relação a outros longas-metragens. Ainda assim, contudo, acho possível que se pense em muitos filmes que podem e deveriam concorrer a este ao posto de melhor filme da história. Alguns destes: Luzes da Cidade de Charles Chaplin, O Poderoso Chefão de Francis Ford Coppola, Se7en de David Fincher e Perfume – A História de um Assassino de Tom Tykwer. Ao contrário de Cidadão Kane, estes são filmes que conseguem prender a atenção do espectador, não tornando os fatos monótonos, porém sem perder a profundidade da história.

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