Alice Garcia
Produzido, dirigido e protagonizado
por Orson Welles, Cidadão Kane (Estados Unidos, 1941) é um filme dramático e
impactante no qual são mostradas as diversas faces do poder na época em que o
capitalismo se instalava na sociedade. Este é considerado por muitos a mais
bela obra cinematográfica criada até hoje; não compartilho, porém, desta
opinião.
É nos apresentado, já de início, o
personagem principal, Charles Foster Kane, em seu leito de morte, suspirando
sua ultima palavra ‘’rosebud’’. E é exatamente em torno desta, a qual se torna
um enigma, que a história do filme ganha espaço.
Tentando decifrar seu significado, o
jornalista Thompson (interpretado por Joseph Cotten), juntamente com seus auxiliares
de imprensa, entrevista muitos daqueles que foram, de alguma maneira, próximos
à Kane. A partir destas entrevistas nos são reveladas inúmeras informações
sobre sua vida, as quais nos permitem perceber suas ambições, mágoas e
problemas. E é através de memórias e lembranças dos entrevistados que tomamos
conhecimento da vida e história do protagonista. Não é possível, entretanto, até
então, compreender a misteriosa palavra.
Kane é revelado sendo dominador e controlador
sobre aqueles que o cercam, sempre manipulando para realizar seus anseios. Era
um magnata da imprensa de sua época, se tornando cada vez mais influente na
sociedade em que se inseria. Em seu caráter podemos identificar facilmente
traços de um capitalista conhecedor de meios e estratégias para atingir seus
objetivos, porém com valores fúteis e superficiais, típicos da mentalidade que
se formava no contexto.
O mais interessante, contudo, é a
forma como é desvendado o significado de ‘‘rosebud’’. Tornando somente os
espectadores conhecedores de tal verdade, em sua última cena, o filme apresenta
o fim deste mistério.
Não se tratando mais da história do
filme e sim de sua estrutura e montagem, podemos analisar diversos aspectos,
ressaltando as inúmeras inovações para o cenário do cinema mundial que ele
traz. Welles faz uso de um plano-sequência revolucionário, com flashbacks,
cenas longas e sem cortes, utiliza sombras para um efeito dramático, filma a
partir de lugares não convencionais, entre outras características pouco usuais
para a época. Estas inovações certamente foram essenciais para que o filme
obtivesse a repercussão que teve.
Saliento também a polêmica que este
filme trouxe. Muitos magnatas e empresários da época se sentiram ofendidos pela
maneira como sua imagem profissional estaria sendo representada. Houve até
boatos de que o filme teria sido inspirado em William Randolph Hearst, grande empresário da comunicação.
Este foi inclusive contrário ao lançamento da obra de Welles. O filme, todavia,
apenas apresentava fatos comuns a vida de Hearst.
Por muitos e muitas vezes este foi considerado
o melhor filme da história da sétima arte. Foi o premiado com o Oscar de 1941,
assim como muitos de seus atores e produtores (melhor direção, melhor produção
de arte, melhor roteiro, melhor ator, entre outros). No entanto, não aprecio
Cidadão Kane como o melhor filme já feito. Acredito que se considerarmos os
padrões, estilo, regras e cultura da época em que foi criado, a ele devem ser
atribuídos muitos elogios, críticas positivas e certamente um lugar de destaque
em relação a outros longas-metragens. Ainda assim, contudo, acho possível que
se pense em muitos filmes que podem e deveriam concorrer a este ao posto de
melhor filme da história. Alguns destes:
Luzes da Cidade de Charles Chaplin, O
Poderoso Chefão de Francis
Ford Coppola, Se7en de David Fincher e Perfume – A História de um Assassino de Tom Tykwer. Ao contrário de Cidadão
Kane, estes são filmes que conseguem prender a atenção do espectador, não
tornando os fatos monótonos, porém sem perder a profundidade da história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário