A
humanidade produz arte há milhões de anos. A produção artística evolui com os
seres humanos ao longo dos séculos, pois é uma forma de se expressar que
materializa e perpetua histórias e sentimentos.
Analisar o filme cidadão Kane é como olhar para trás, para um degrau importante
na história do cinema. Inovador em inúmeros fatores, o filme é considerado um
dos melhores que já se produziu até então, com ele é possível entender muito do
cinema atual.
Diferente
de tudo que assistimos atualmente, esse é um filme em preto e branco, o que já
desagradaria muita gente e faria com que muitas perdessem interesse de vê-lo. Não
é um filme para fãs de efeitos especiais, historias surreais, contos e muito
menos finais felizes. A cena inicial com uma mansão, neve e uma trilha sonora
semelhante à de um filme de terror, me fizeram pensar: Aí vem um filme de
terror sem qualidade, os chamados “trash”. Para minha surpresa o filme é bom,
muito bom. Tratamos aqui de uma obra de arte, que trouxe muito mais do que o
som para o cinema, trouxe a sensação de que criatividade não tem limites.
Um filme para fãs de cinema. Esses sim ficam
maravilhados com a obra, com a percepção, com a técnica que resultaram em efeitos
visuais inéditos conquistados mesmo com equipamentos rudimentares como eram os
da época, a grandeza e a riqueza de detalhes do cenário e finalmente a
complexidade do roteiro que pela primeira vez apresenta uma ruptura cronológica.
O enredo se desenvolve sobre um pretexto bobo, um jornalista é escolhido para
investigar a vida de Charles Foster Kane após a sua morte e descobrir o
significado da palavra Rosebud, pronunciada pelo magnata nos segundos que
antecederam a sua morte.
A
personagem principal morre no início do filme, e a história de sua vida é
contada para o jornalista pelas pessoas que conviveram com o empresário. Dessa
forma é despertada a curiosidade do espectador para acompanhar a investigação e
assim descobrir também o significado da palavra em questão. A riqueza do
roteiro é percebida ao longo do filme através dos inúmeros sentimentos que são
despertados em quem o assiste e aos poucos procura compreender e se identificar com Charles.
Após
o desenrolar de quase todo o enredo, o jornalista não consegue desvendar o
significado da palavra investigada, e o que prendeu o espectador por mais de
uma hora e meia em frente à tela não é revelado de maneira convencional, um
jogo de cenas e nada é dito, somos incitados a pensar e a prestar atenção ao
máximo. Confesso-lhes que eu precisei assistir essa cena mais de uma vez para
finalmente descobrir o significado da palavra e é então que a mágica do filme
acontece: Após descobrir o que é Rosebud o espectador entra em profunda
reflexão sobre tudo o que viu, e faz uma releitura inteira do filme em
segundos. Não é surpresa alguém querer rever o filme. Não é espantoso o filme
ser tão atual até hoje, é rico e muito bem pensando em todos os seus elementos.
Cidadão
Kane se constrói nos detalhes, na complexidade e engenhosidade das histórias e
das imagens; é um filme diferente e por isso não é um filme a se indicar, pois
com certeza não agradará aqueles que estão acostumados aos efeitos visuais e
animações gráficas de última geração.
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