quinta-feira, 28 de junho de 2012

Cidadão Kane, uma análise do filme e seus efeitos, por Thiago Schimitt



O filme Cidadão Kane, que tem Orson Welles por diretor, co-roteirista, produtor e ator, produzido em 1941 pela RKO Radio Pictures, é considerado um marco do cinema moderno. Inovando tanto no assunto abordado como nas técnicas de produção, é precursor de técnicas até hoje usadas, como a narrativa não linear(flashback), ângulos de câmera (uso de plongée e contra-plongée), e a exploração do campo (campo e contra-campo).

Inspirado na vida do magnata da comunicação Willian Randolph Hearst, o filme narra a busca de um jornalista investigativo pelo significado da palavra ”Rosebud”, que fora a última palavra proferida em vida por Charlie Foster Kane, um garoto interiorano que, após sua mãe herdar uma mina fabulosamente valiosa, ainda pequeno foi levado para um grande centro urbano a fim de receber uma educação mais apurada, sob a tutela de um grupo de empresários. Ao alcançar a maioridade e tomar posse de sua fortuna, decidiu tornar-se diretor de um jornal, buscando fazê-lo uma potência, independentemente dos meios que seriam necessários para tanto. Ao longo do filme, o repórter investigativo vai entrevistando as pessoas mais íntimas de Kane, e essas passam diferentes imagens do personagem. Contudo, ao espectador, fica uma imagem de que Kane, o multimilionário que manipula o povo em favor de seus interesses, nunca consegue alcançar seus objetivos principais. Isso se evidencia desde sua infância, quando ele não pode ficar com seus pais, brincando e fazendo o que gosta, tem seu ápice quando perde as eleições presidenciais, e culmina com a sua incapacidade de passar para o público seu último anseio, a palavra “Rosebud”.

O filme não atingiu o sucesso imediato, pois foi de encontro aos interesses de Hearst, que se viu retratado no filme e, preocupando-se com sua imagem, protagonizou uma ferrenha campanha contra o filme. O resultado foi que, mesmo com toda sua inovação e qualidade, "Cidadão Kane" quase não vendeu, fruto de problemas com Hearst. Ele teve nove indicações para o Oscar, mas venceu apenas um, o de melhor roteiro original. A coragem de realizar esta obra prima acabou resultando no fechamento de muitas portas no futuro, levando Welles a beirara do ostracismo no fim de sua vida.

As técnicas usadas por Kane foram inovadoras e permanecem até hoje, todavia, o leitor desta crítica não deve ter em mente um filme hollywoodiano nos moldes atuais sem “tirar nem por”, pois embora inovadoras, frente ao aperfeiçoamento das imagens o filme de Welles pode ser considerado obsoleto. Em contrapartida, o assunto tratado permanece vigente até hoje, pois juntamente com a produção de Charlie Chaplin, “Tempos Modernos”, o filme “Cidadão Kane” deu início a chamada Indústria Cultural. Termo que representa a cultura de massa, ou seja, a popularização das manifestações culturais já existentes, porém, com uma moldagem apropriada para o público consumidor submetido às ordens de uma minoria majoritária.

A abordagem de Welles até hoje permanece em voga, tanto nos filmes como na literatura, exemplos disso são o filme “O Quarto Poder”, de Costa Gravas, em que um jornalista se aproveita de um momento de fraqueza emocional de um civil para torná-lo um furo de reportagem, ou no livro "As Mentiras na Propaganda e na Publicidade" discute a mentira, seja ela boa ou má, ofensiva ou defensiva. De fato, “Cidadão Kane” é uma das maiores obras cinematográficas de todos os tempos, tão antiga, porém, tão presente em nossa realidade.

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