Ideologias?
Ninguém precisa delas - Por Fernando V. P. Dias
O mundo político, dia após dia desgastado por
escandalosos casos de corrupção, não faz mais parte da mesa de jantar do
brasileiro. É talvez irônico constatar, desde a reinserção da democracia nesse
país, que a participação popular tenha diminuído em grande escala. Seria muito
fácil culpar o tal do sistema, sujeito sempre presente quando a culpa cai sobre
ninguém, afirmar que a falta de interesse da população acarreta nos absurdos
incansavelmente constantes nos noticiários, mas o caminho não é esse.
Todo esse transtorno ocorre pela falta de
posicionamentos convictos do cidadão, sim, mas, principalmente, dos partidos
políticos. Uma sigla, a partir do momento que é criada, deve lutar e defender
ideologias claras e transparentes que representem determinada fatia da
sociedade. Infelizmente, esse conceito se resume a peculiaridades
exclusivamente teóricas.
Não há melhor exemplo para explicar o
estereótipo político brasileiro do que o surgimento do PSD no ano passado.
Normalmente, partindo de uma suposta insatisfação com a atual regência, os
partidos políticos nascem predispostos, conforme seus conceitos ideológicos, o
que é inexistente na nova sigla, a fazer e ser oposição. Hoje, isto é raríssima
exceção. O PSOL, fundado pela senadora Heloísa Helena, por exemplo, fugiu um
pouco à regra quando seus preceitos diferenciavam-se do governo Lula e o
partido assumia ser de esquerda. Já o PSD, por sua vez, segundo o seu próprio
presidente, o controverso prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, não é nem de
direita, nem de esquerda, mas sim de centro. O partido desponta no cenário
nacional esperando ações de outras siglas para quaisquer possíveis coligações
não com base no que acredita, mas no que pode ser melhor para os interesses
pessoais de seus componentes.
Todavia não
é necessário falar do que é novo para comentar a descaracterização da política
no Brasil. Dois dos partidos mais tradicionais do país se contradizem nacional
e municipalmente. Hoje em dia, PT e PMDB compõem, eleitos com a coligação Para o Brasil Seguir Mudando, o governo brasileiro com a presidente Dilma
Roussef e o vice-presidente Michel Temer, respectivamente. Já em Porto Alegre,
o cenário das eleições para a prefeitura no ano seguinte não condiz, de forma
alguma, com os reflexos de Brasília. Ao ser questionado sobre uma possível coligação
entre os dois partidos e o PDT de José Fortunati na Capital, o presidente
peemedebista porto-alegrense, vereador Sebastião Melo, participante do antigo e
fortemente ideológico MDB, pediu ao jornalista para que não contem com ele para
“defender o indefensável”. Recentemente o PT lançou Adão Villaverde para
disputar a prefeitura com um Fortunati apoiado pelo PMDB, revelando a total
dissonância pela qual nosso cenário político vem passando. A incoerência, não
afetasse nossa honra, nossa inteligência e, em última (ou primeira) instância,
nossos bolsos, até que seria engraçada, mas nada mais é, senão, uma afronta.
Indiscutivelmente,
a atualidade política brasileira sofre com a imposição dos interesses
individuais acima dos interesses coletivos e, assim, a figura do parlamentar
defensor de causas semelhantes a grandes grupos é cada vez mais banal.
Independentemente de suas convicções, o cenário atual faz com que os políticos
de todas as espécies sejam inseridos em uma espécie de funil, junto aos novos
peessedistas, inclusive, e, assim, torna-se impossível a diferenciação das
características governamentais de cada um. Fica cada vez mais difícil não
incorrer em jargões como “farinha” do mesmo saco, “tudo igual” e afins.
Ridículo.
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