quinta-feira, 28 de junho de 2012


Ideologias? Ninguém precisa delas - Por Fernando V. P. Dias
O mundo político, dia após dia desgastado por escandalosos casos de corrupção, não faz mais parte da mesa de jantar do brasileiro. É talvez irônico constatar, desde a reinserção da democracia nesse país, que a participação popular tenha diminuído em grande escala. Seria muito fácil culpar o tal do sistema, sujeito sempre presente quando a culpa cai sobre ninguém, afirmar que a falta de interesse da população acarreta nos absurdos incansavelmente constantes nos noticiários, mas o caminho não é esse.
Todo esse transtorno ocorre pela falta de posicionamentos convictos do cidadão, sim, mas, principalmente, dos partidos políticos. Uma sigla, a partir do momento que é criada, deve lutar e defender ideologias claras e transparentes que representem determinada fatia da sociedade. Infelizmente, esse conceito se resume a peculiaridades exclusivamente teóricas.
Não há melhor exemplo para explicar o estereótipo político brasileiro do que o surgimento do PSD no ano passado. Normalmente, partindo de uma suposta insatisfação com a atual regência, os partidos políticos nascem predispostos, conforme seus conceitos ideológicos, o que é inexistente na nova sigla, a fazer e ser oposição. Hoje, isto é raríssima exceção. O PSOL, fundado pela senadora Heloísa Helena, por exemplo, fugiu um pouco à regra quando seus preceitos diferenciavam-se do governo Lula e o partido assumia ser de esquerda. Já o PSD, por sua vez, segundo o seu próprio presidente, o controverso prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, não é nem de direita, nem de esquerda, mas sim de centro. O partido desponta no cenário nacional esperando ações de outras siglas para quaisquer possíveis coligações não com base no que acredita, mas no que pode ser melhor para os interesses pessoais de seus componentes.



          Todavia não é necessário falar do que é novo para comentar a descaracterização da política no Brasil. Dois dos partidos mais tradicionais do país se contradizem nacional e municipalmente. Hoje em dia, PT e PMDB compõem, eleitos com a coligação Para o Brasil Seguir Mudando, o governo brasileiro com a presidente Dilma Roussef e o vice-presidente Michel Temer, respectivamente. Já em Porto Alegre, o cenário das eleições para a prefeitura no ano seguinte não condiz, de forma alguma, com os reflexos de Brasília.   Ao ser questionado sobre uma possível coligação entre os dois partidos e o PDT de José Fortunati na Capital, o presidente peemedebista porto-alegrense, vereador Sebastião Melo, participante do antigo e fortemente ideológico MDB, pediu ao jornalista para que não contem com ele para “defender o indefensável”. Recentemente o PT lançou Adão Villaverde para disputar a prefeitura com um Fortunati apoiado pelo PMDB, revelando a total dissonância pela qual nosso cenário político vem passando. A incoerência, não afetasse nossa honra, nossa inteligência e, em última (ou primeira) instância, nossos bolsos, até que seria engraçada, mas nada mais é, senão, uma afronta.




          Indiscutivelmente, a atualidade política brasileira sofre com a imposição dos interesses individuais acima dos interesses coletivos e, assim, a figura do parlamentar defensor de causas semelhantes a grandes grupos é cada vez mais banal. Independentemente de suas convicções, o cenário atual faz com que os políticos de todas as espécies sejam inseridos em uma espécie de funil, junto aos novos peessedistas, inclusive, e, assim, torna-se impossível a diferenciação das características governamentais de cada um. Fica cada vez mais difícil não incorrer em jargões como “farinha” do mesmo saco, “tudo igual” e afins. Ridículo.



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